sábado, 18 de agosto de 2018

Resenha do livro A montanha e o rio, de Da Chen





CHEN, Da. A montanha e o rio. Tradução: Paulo Andrade Lemos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. 493p.




Da Chen nasceu no sul da China, em 1962, e emigrou para os Estados Unidos aos 23 anos com apenas 30 dólares no bolso, uma flauta de bambu e o coração cheio de esperança. Formado pela Faculdade de Direito de Columbia, mora com sua família na região do Vale do Rio Hudson, no estado de Nova York. Publicou as obras: Colors of the Mountain (1999), China's Son: Growing Up in the Cultural Revolution (2001), Sounds of the River: A Memoir (2002), Wandering Warrior (2003), Brothers (2006) e My last Empress (2012).



Brothers foi a primeira incursão de Da Chen na ficção, sendo que começou a escrevê-la no dia que o seu filho nasceu e levou oito anos para concluí-la. Lançado no Brasil como “A montanha e o rio”, foi considerado melhor livro de 2006 pelos jornais americanos The Washington Post, San Francisco Chronicle, Miami Herald e Publishers' Weekly.


A montanha e o rio é uma história de conspiração, mistério e paixão, que conta a saga da família Long ao longo de quase quatro décadas, acompanhando a trajetória dos filhos do general Ding Long, o filho legítimo Tan e o ilegítimo Shento. Separados pela distância e pelas condições de vida, os meio-irmãos trilham caminhos distintos, porém suas vidas se encontram em meio a acontecimentos marcantes da história da China no final do século XX, tais como a Revolução Cultural, no governo de Mao Tsé Tung. Seus destinos os colocam como inimigos, em virtude de serem adversários políticos (Shento representa o totalitarismo comunista e Tan, o capitalismo selvagem) e por se apaixonarem pela mesma mulher: Sumi. O romance está dividido em 67 capítulos, que alternam o foco narrativo, ora mostrando a perspectiva de Shento, ora a de Tan, e lá pra frente também a de Sumi, conforme ilustra os trechos a seguir:

  

(SHENTO)

[...] O nascimento dele foi um acontecimento trágico, e sua história não é diferente da vida de muitos imperadores que, vindos do nada, ascenderam ao trono dourado.

Baba ficou em silêncio por um momento.

- É...já li em algum lugar que os acontecimentos trágicos formam homens extraordinários. (p.12-13)



(TAN)
Segundo a tradição, eu, muito bem lavado, penteado e vestindo uma roupa nova de marinheiro, fui colocado no chão rodeado por objetos variados. Aquele que eu escolhesse iria simbolizar o que eu seria quando crescesse. Para surpresa de todos, não escolhi nem o tanque de guerra e nem o ábaco, que estavam estrategicamente posicionados bem diante dos meus olhos e facilmente ao meu alcance, enquanto meus dois avós, ajoelhados, tentavam me influenciar na escolha. Em vez disso, peguei um globo terrestre em miniatura, cravei  os dentes nele e o despedacei. Em seguida, com a mão direita, peguei o ábaco, que descartei quase imediatamente, e apanhei o tanque de guerra. O banqueiro cantou vitória, mas o general disse que riria por último. Ficou decidido que, por eu ter apanhado o globo terrestre, meu destino era ser um grande líder mundial, mas que eu seria ambivalente no que dizia respeito ao instrumento a ser usado para alcançar aquela posição. (p. 21)    


(SHENTO)
“Tenha  coragem”, disse a mim mesmo. “Segure firme as rédeas e vai dar tudo certo.” Apesar dos pesares, tinha gratidão pelo velho general, o homem que havia me dado um tapa na cara e que estava me enviando para o colégio militar. Decidi encarar aquilo como uma oportunidade. Jurei dar o melhor de mim e fazer jus ao meu nome, cujo significado é “topo da montanha”. (p. 64)


(TAN)
Desde que me entendo por gente, cresci ouvindo as pessoas me dizerem que eu não era um menino comum. Agora então, naquela noite, confinado numa cela fedorenta, eu ainda sentia que era especial, diferente do presidiário na cela ao lado, fosse ele quem fosse. [...] Estava ali para alguma experiência, para testar a minha constituição. Todos os grandes homens tinham que passar uma temporada na prisão. Isso está em todos os livros de história. As prisões punham os homens à prova e o fortaleciam. (p.156)


(SUMI)
Apaixonada pelos dois irmãos! Eu amaldiçoava o meu próprio destino, as três facas cravadas nele. Quem eu deveria escolher? Shento, com sua crueza da gente das montanhas e sua sede desesperada? Ou Tan, com o coração amoroso que tranquilizada a mente, sem deixar espaço para a mágoa e a solidão, fazendo com que eu não precisasse de mais nada? Um morreria por mim. O outro não viveria sem mim. (p.365)    


(SHENTO)
Mas a realidade é muitas vezes a antítese dos nossos sonhos. (p. 491)


A leitura é envolvente e emocionante. Possui uma linguagem poética, repleta de metáforas. O livro mostra como o tempo transforma o ser humano, seja em seu aspecto físico, seja sua ideologia, seu ânimo. Mostra como a guerra, os conflitos políticos e o espírito competitivo afetam as pessoas, desde a infância, bem como seus sonhos, seu caráter. Revela também a cultura dominada pelos homens e a pressão que sofrem, evidenciada pela rígida educação.


Trata-se de um livro sobre família, honra, poder, patrotismo, coragem, superação, vingança, luta pela liberdade e amor. Você torce, sofre e se emociona com os personagens, que são intensos. Não consegue distinguir quem é mocinho ou vilão. Todos são agentes e vítimas do destino, de suas escolhas e de suas ações. Você aprende que nunca é tarde para recomeçar, redimir-se, libertar-se, perdoar e ser perdoado, que o ódio deve ser apagado e o amor, nunca esquecido.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Mariana Paiva lança o livro Vermelho-Vida


A escritora e jornalista baiana Mariana Paiva lança seu quinto livro, o romance Vermelho-Vida, no Ferreiro Café (espaço gourmet do Salvador Shopping), no próximo sábado, dia 11 de agosto, a partir das 18 horas. 

No livro, Mariana mistura o tempo passado entre os portões da Casa do Sol, onde Hilda Hilst viveu e escreveu grande parte de sua obra, com o conteúdo dos diários escritos pela escritora, que foi a homenageada da edição de 2018 da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). 

Em 2013, Mariana foi a primeira baiana e uma das primeiras artistas a participar do programa de residência artística na Casa do Sol, em Campinas-SP, e lá chegou para escrever um livro sobre o lugar. O romance foi construído a partir de anotações feitas, entrevistas com amigos de Hilda e os diários da escritora. Entre literatura e jornalismo, prosa e linguagem de poesia, a autora oferece aos leitores um passeio pelas memórias e espaços habitados por uma das mais importantes escritoras da literatura brasileira.


Mariana Paiva é baiana de Salvador, escritora, jornalista e doutoranda em Teoria e História Literária pela Unicamp. É autora dos livros Vermelho-Vida (editora Patuá, 2018), Canto da Rua (Penalux, 2016), Damário Dacruz: Um homem, uma surpresa (Edições ALB, 2015), Lavanda (Kalango, 2014) e Barroca (P55 Edições, 2011). É coautora da canção Ondas, escolhida pelo público como Melhor Música no Prêmio Caymmi de 2014, e tem textos traduzidos para inglês, espanhol e alemão. Tem contos publicados nas revistas Pessoa, Vacatussa e Livre Opinião, e escreve no blog Assim Falou Mariana: www.assimfaloumariana.wordpress.com


 
SERVIÇO:
Lançamento de Vermelho-Vida, livro de Mariana Paiva
Dia 11/08 (sábado), a partir das 18 horas
Ferreiro Café, espaço gourmet do Salvador Shopping
Entrada franca


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

FLIPELÔ 2018 homenageia João Ubaldo Ribeiro



A 2ª edição da Feira Literária Internacional do Pelourinho – FLIPELÔ, realizada pela Fundação Casa de Jorge Amado, acontece do dia 08 a 12 de agosto de 2018 e este ano o evento homenageia o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, grande amigo de Jorge Amado.


Mais de 50 atividades serão realizadas de forma gratuita nas ruas, largos, praças e casarões do Centro Histórico de Salvador e, além de muita literatura, apresentações teatrais, musicais, exposições e rota gastronômica com a participação de 20 restaurantes que produzirão pratos inspirados no livro “A Comida Baiana de Jorge Amado”, de Paloma Amado.

Saiba mais visitando o site oficial do evento: http://www.flipelo.com.br/