domingo, 15 de setembro de 2019

Resenha do livro Sejamos todos feministas, de Chimamanda Adichie

 
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todos feministas. Trad. Christina Baum. 1a. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 
 
Chimamanda Ngozi Adichie nasceu em Enugu, no sudoeste da Nigéria, em 1977. Estudou Medicina e Enfermagem na Universidade da Nigéria, em Enugu, onde seu pai era professor e sua mãe foi a primeira mulher arquivista. Cursou Comunicação e Ciências Políticas nos Estados Unidos, obtendo mais tarde um mestrado em estudos africanos por Yale.   
 
 

Uma das importantes vozes nigerianas da atualidade, Chimamanda se dedica à história política de seu País e explora o lugar da mulher em uma cultura dominada pela figura masculina. É autora dos romances Meio Sol Amarelo - que lhe rendeu o Orange Prize 2007 de Ficção - Hibisco Roxo e Americanah; da coleção de contos No seu pescoço (2009) e dos manifestos Sejamos todos feministas e Para educar crianças feministas.
 

O ensaio Sejamos todos feministas é um livro pequeno no tamanho, com pouco mais de 60 páginas, porém grandioso em seu significado, impactando-nos de forma definitiva. Trata-se da adaptação da célebre palestra proferida pela escritora no TEDxEuston, em dezembro de 2012, que já teve mais de 3,6 milhões de visualizações.

 

A conotação negativa com que um amigo de infância a chamou de "feminista", quando ela tinha 14 anos, a marcou de tal forma que ela se sentiu motivada a refletir se ela era feminista e sobre como as feministas eram vistas, ou seja, como mulheres infelizes que não conseguiam arranjar marido, que odiavam os homens, odiavam sutiã, que não usam maquiagem, que não se depilam, etc. Também analisa como se torna normal, pelo costume, o fato de que aos homens sejam reservadas exclusivamente as vagas, desde na monitoria de uma sala de aula até nos cargos de chefia de empresas.  
 
Embora o mundo hoje esteja diferente, no qual homens e mulheres podem ser inteligentes e inovadores e lutarem para conquistar seus espaços, as ideias de gênero ainda deixam a desejar. Ainda parece estranho mulheres independentes, saindo desacompanhadas, acontecendo de  mulheres acompanhadas serem ignoradas por recepcionistas, garçons, etc. Então ela discorre sobre as diferenças de expectativas sobre homens e mulheres, ocupando mesmas posições, e sobre as distinções de valores na hora de se educar meninos e meninas. E a mudança, segundo ela, deve começar justamente na criação das filhas e filhos.  
 
A partir de sua experiência pessoal, a autora mostra o quanto ainda precisamos caminhar para alcançar a igualdade de gênero, defendendo que esta é libertadora tanto para homens quanto para mulheres e que, por isso, diz respeito a ambos, para que cresçam livres, sem ter de se enquadrar em seus respectivos estereótipos. Enfim, uma leitura essencial para compreender e refletir sobre a importância do feminismo e a necessidade de planejar um futuro que torne possível a igualdade de gênero. A seguir, destacamos alguns trechos:
 
"Algumas pessoas me perguntam: "Por que usar a palavra 'feminista'? Por que não dizer que você acredita nos direitos humanos, ou algo parecido?" Porque seria desonesto. O feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma forma geral - mas escolher uma expressão vaga como 'direitos humanos' é negar a especificidade e a particularidade do problema de gênero. Seria uma maneira de fingir que as mulheres não foram excluídas ao longo dos séculos. Seria negar que a questão de gênero tem como alvo as mulheres. Que o problema não é ser humano, mas especificamente um ser humano do sexo feminino. Por séculos, os seres humanos eram divididos em dois grupos, um dos quais excluía e oprimia o outro. É no mínimo justo que a solução para esse problema esteja no reconhecimento desse fato." (p. 42-43)
 
"Ele tinha razão, anos atrás, ao me chamar de feminista. Eu sou feminista. Naquele dia, quando cheguei em casa e procurei a palavra no dicionário, foi este o significado que encontrei: "Feminista: uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos."" (p. 49)
 
"A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e a sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente." (p. 28)

 
Referências: 
CANTON, James et al (org.). O livro da literatura. Trad.: Camile Mendrot. 1.ed. São Paulo: Globo, 2016.
 
Todos devemos ser feministas. Discurso feito por Chimamanda Adichie no TEDXEuston: https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_we_should_all_be_feminists?language=pt-br